Canalblog
Editer l'article Suivre ce blog Administration + Créer mon blog
Publicité
Portugal Notável
25 décembre 2005

Em 1995 a VISÃO fez-se à estrada e avaliou a

Em 1995 a VISÃO fez-se à estrada e avaliou a situação de oito casos de património português. Agora, dez anos depois, regressa aos mesmos locais para saber se algo está a mexer no País dos monumentos por conservar. Por aqui anda também o estado da nação – com muito pouco dinheiro...

Nazaré -Igreja de São Gião (*) São Gião

é, pode dizer-se, uma boa notícia. Já foi um dos casos mais impressionantes de degradação do património português, mas agora parece estar bem encaminhado. Há dez anos, quando a VISÃO lá esteve, encontrou uma igreja praticamente arruinada onde pastavam cabras e ovelhas. Hoje, ainda que as obras de recuperação não tenham terminado, o edifício está limpo e escorado. António Nabais, do Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, na Nazaré, considera «exemplar» o trabalho desenvolvido em São Gião. Em 1995 a igreja de São Gião, situada perto da estrada que liga Alfeizeirão à Nazaré, estava na mão de privados. Quatro anos depois, o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) comprou o monumento e a zona envolvente. Uma equipa de arqueólogos da Universidade do Minho acompanhou os trabalhos de limpeza e de escoramento, tendo também realizado escavações que despertaram a atenção de investigadores espanhóis e alemães. Foram encontradas algumas peças do período romano e, pela primeira vez em Portugal, escavaram-se as paredes do edifício, o que permitiu obter, segundo Luís Fontes, «resultados muito interessantes». Aquela que se pensava ser a igreja visigótica mais antiga da Península Ibérica possui, de acordo com este arqueólogo, «uma planta com elementos que aceitam a vinculação aos séculos VII e VIII, mas também tem elementos de plano e de componentes arquitectónicas que aceitam que ela seja mais tardia, vinculando-a aos modelos moçárabes e asturianos». Segundo o director regional de Lisboa do IPPAR, Flávio Lopes, o projecto de restauro (do eng.° João Appleton e dos arquitectos Vítor Mestre e Sofia Aleixo) deverá começar no início de 2006, estando prevista a abertura ao público até ao final de 2007. O engenheiro do IPPAR que acompanha as obras, Hernâni Dias, diz que, «haja dinheiro», «a ideia é manter o ambiente rural e deixar as marcas do tempo». De um templo muito perto do mar. 2005: O IPPAR adquiriu a Igreja de São Gião, na Nazaré, e procedeu ao seu escoramento. O restauro começará em 2006 1995: Quase arruinada, servia de curral

Tarouca-Mosteiro Santa Maria de Salzedas (*)

A obra aqui é quase só de construção civil e arquitectura.» É assim que Luís Sebastian resume a intervenção que o IPPAR iniciou em 2003 no Mosteiro de Salzedas. Jóia cisterciense de raiz românica, o monumento apresenta um emaranhado de obras de diversos estilos, desde o gótico ao renascentista, passando pelo barroco e o neoclássico. Pertença da diocese de Lamego, a meias com um privado, o mosteiro foi cedido ao Estado por um período de 20 anos para ser alvo de profundas obras de restauro. De mangas arregaçadas, em perfeita sintonia com o responsável técnico do IPPAR, o padre Seixeira conseguiu mobilizar uma boa parte da população para a importância de preservar um monumento que, em tempos, era alvo de saques constantes. Com o claustro em risco de desabar a qualquer instante, a primeira intervenção foi no sentido de o recolocar na posição adequada, o que foi conseguido com a prestimosa colaboração de um construtor especializado e ao arrepio de algumas opiniões da maioria dos engenheiros que consideravam tal deslocação impossível de efectuar. O segundo passo, ainda em curso, é impedir as infiltrações de água pelas paredes cujos estragos são ainda bem visíveis nos frescos e na talha dourada. Se tudo correr como previsto, a obra estará concluída durante o próximo ano. 1995: Toda a igreja estava coberta de humidade e o claustro ameaçava ruir 2005: O claustro está a salvo e o resto das obras prossegue em bom ritmo

Crato-Mosteiro da Flor da Rosa (**)

Há dez anos, a pousada que a ENATUR estava a construir no Mosteiro de Santa Maria da Flor da Rosa não era propriamente uma obra consensual. Hoje, não só já ninguém põe em causa a volumetria do projecto do arquitecto Carrilho da Graça como o equipamento hoteleiro é apontado como um exemplo que alia a recuperação do património ao desenvolvimento turístico. Perante a solução, diz Ana Cristina Pais, da Direcção Regional de Évora do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), que «a instalação deste tipo de equipamentos comporta sempre um peso estrutural». «Não é a mesma coisa que conservar uma ruína», explica. Ao mosteiro, onde estão instalados dez quartos, foi acrescentado um edifício longitudinal com mais 14 quartos, o que confere maior capacidade à pousada com uma taxa de ocupação anual de 70 por cento. E, numa região especialmente atingida pelo desemprego, a Flor da Rosa assegura ainda 31 postos de trabalho à população da zona. A restante parte do mosteiro, a da igreja, continua afecta ao IPPAR. E, neste momento, ainda não pode ser visitada. A primeira fase do projecto de obras de recuperação, que envolveu escavações arqueológicas e a instalação de um sistema de drenagem para resolver o problema das infiltrações no interior do mosteiro, foi concluída em 2003. Desde então que se aguarda financiamento para a segunda fase da obras orçadas em 950 mil euros. Talvez em 2007, o mais tardar em 2008, haja ali um núcleo museológico. 1995: Discutia-se a volumetria da pousada que então estava a ser construída 2005: Ninguém contesta o equipamento hoteleiro, mas a igreja está fechada para obras

Batalha-Igreja de Santa Maria-a-Velha

Os 63 anos de António Moniz, guarda do Mosteiro da Batalha, permitem-lhe recordar a Igreja de Santa Maria-a-Velha, soterrada pelo regime do Estado Novo. Fala dela já sem telhado e também das casas que, muito de perto, circundavam o monumento mandado erguer por D. João I. «Nalguns sítios não passava sequer um carro entre as paredes do mosteiro e as das casas da vila», conta. Depois, na década de 60, toda a zona envolvente do mosteiro foi elevada e, com ela, desapareceu o que restava da antiga igreja matriz destinada aos trabalhadores que construíram o mosteiro. O local, junto às Capelas Imperfeitas, está hoje assinalado por uma lápide. Em 1995, a VISÃO dava conta de a EDP ter aberto uma vala na zona onde se encontra soterrada a igreja, bem como da intenção da Câmara da Batalha de realizar escavações no local. O pedido seguiu em 2002, mas o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) não autorizou, alegando que «não havia vantagem na abertura de novas frentes de escavações arqueológicas na área». O actual director regional de Coimbra do IPPAR, José Maria Henriques, esclarece que na altura havia outras prioridades. «E hoje o mosteiro continua a ser a nossa prioridade», acrescenta. O presidente da autarquia, António Lucas, por seu lado, mantém o interesse em revelar uma parte das fundações de Santa Maria-a-Velha: «Com base nos pareceres dos nossos técnicos, seria importante permitir que as pessoas conhecessem um pouco mais da nossa história». O arqueólogo-geólogo António José Teixeira defende que as escavações serviriam para «recuperar algo da traça medieval»: «Parece que o mosteiro cai aqui de pára-quedas. O mosteiro hoje já não diz nada à vila nem a vila diz nada ao mosteiro. E a maneira de tentar recuperar isto é reaver o máximo de estruturas soterradas para que haja um diálogo entre o urbano antigo e o urbano contemporâneo». 1995: A Câmara pretendia realizar escavações no local onde o templo está soterrado 2005: O IPPAR continua a não autorizar os trabalhos

Barrancos-Castelo de Noudar (*)

O caminho até Noudar está indicado logo na primeira rotunda à entrada da vila. A partir daí segue-se em direcção ao rio e, depois, são ainda mais 11 quilómetros de estrada de terra batida pela Herdade da Coitadinha. Lá do alto, Barrancos já fica longe e, por entre montes e vales da raia alentejana, o horizonte quase se perde de vista. Passando a porta de madeira do castelo, o cenário é, porém, menos animador. A igreja está de pé e existem três casas reconstruídas, mas o resto como que está? entregue aos bichos. Literalmente: no local, há cabras, rolas, galinhas, galos, perdizes e um cão. Virá alguém à noite para os recolher? De acordo com as informações recolhidas há dez anos pela VISÃO, já então se falava na hipótese de a Câmara poder vir a exercer o direito de preferência na venda do Castelo de Noudar. Assim foi: a Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva (EDIA) adquiriu os mil hectares da herdade (com o objectivo de ali desenvolver um projecto de compensação pela perda de habitats na sequência da construção da barragem) e a câmara ficou com o monumento, abrindo-o ao público. O arqueólogo Miguel Real trabalhou no local, tendo encontrado algumas estruturas de uma basílica do século VI, uma parte do cemitério medieval e uma casa do século seiscentista. Hoje, na zona que para Cláudio Torres «foi um pequeno povoado na época islâmica», suspenderam-se todos os projectos de investigação. A prioridade, para o vereador da Câmara de Barrancos, Francisco Bossa, é reconstruir a torre oeste, que está em ruínas. 1995: Estava à venda 2005: A Câmara comprou o monumento, que está hoje praticamente abandonado

Idanha-a-Nova-Aldeia de Monsanto (***)

Pelas ruas ladeadas de fragas de granito, a subida até ao castelo é tão íngreme que alguém do grupo de excursionistas até confessa que não sabe bem como é que lá conseguiu chegar. São da Margem Sul e seguem viagem ainda hoje. Como a maior parte dos visitantes de Monsanto, também eles não ficam para dormir, o que nada abona a favor do negócio de Rodrigo Ferreira, que explora a antiga pousada. Nos últimos anos, na aldeia que numa década perdeu 25% dos seus eleitores procedeu-se ao enterramento dos cabos de electricidade e de telefone, à inauguração do posto de Turismo e à abertura dos pólos museológico e gastronómico. A democracia preserva a «aldeia mais portuguesa de Portugal» sob a designação de «aldeia histórica». A desertificar-se? 1995: Ameaçava tornar-se num museu 2005: Perante a desertificação, cresce a aposta no turismo

Tarouca- Mosteiro de São João de Tarouca (**)

Foi à procura de isolamento e de contemplação mas também de uma confluência de linhas de água, fundamental para o desenvolvimento da agricultura, que em 1154 os «monges brancos» se instalaram no vale profundo da serra de Leomil. Abandonado em 1834, o mosteiro de São João de Tarouca – o primeiro da Ordem de Cister em Portugal – foi vendido em hasta pública e desmantelado pelo então proprietário para reaproveitamento da pedra. Classificado como monumento nacional em 1956, já então propriedade do Estado, o imóvel permaneceu quase ao abandono até 1996. Umas pequenas operações de cosmética não impediram a ruína acelerada dos dormitórios nem travaram a degradação dos frescos e do restante mobiliário da igreja. Em 1998, com a instalação de uma equipa de arqueólogos do IPPAR, o projecto de recuperação e valorização do conjunto monástico deu o passo decisivo. O restauro da igreja e todo o recheio foi a prioridade, e o melhor sinal do sucesso alcançado com a operação é dado pelos mais de 3 500 visitantes anuais. A equipa liderada por Luís Sebastian, vai prosseguindo as escavações arqueológicas que, após 20 camiões de terra, tirada à mão, revela já «com mais de 250 mil cacos, uma das maiores amostras de faiança portuguesa». O final dos trabalhos está previsto para 2006, altura em que será discutida a musealização, para a qual Siza Vieira já elaborou um anteprojecto. 1995: Encontrava-se em adiantado estado de degradação 2005: A igreja foi completamente recuperada e aberta ao público

Montalegre Mosteiro de Santa Maria das Júnias (**)

Os mais de 20 minutos a pé por um antigo caminho carreteiro desde a aldeia de Pitões não fazem esmorecer os inúmeros visitantes de um mosteiro que já conheceu dias melhores. Consagrado à Senhora das Unhas, que por derivação fonética se tornou Senhora das Júnias, o monumento é classificado. É ao Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) que cabe a responsabilidade de zelar por uma obra cuja propriedade é da Igreja. Depois de uma sondagem arqueológica realizada em 1994, complementada por um estudo do edificado, a mudança de direcção do PNPG travou os trabalhos. De mãos atadas, a autarquia de Montalegre, através do vereador da Cultura, é que não cala a indignação. Para Orlando Alves, a responsabilidade maior «no estado de degradação do mosteiro é do IPPAR, que já decidiu há muitos anos que aquilo é para deixar cair». 1995: Em avançado estado de degradação 2005: As ruínas continuam expostas às intempéries e ao vandalismo. IN VISÃO nº 654 15 Set. 2005

Publicité
Commentaires
Publicité