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Portugal Notável
27 septembre 2006

Parque Arqueológico de Foz Côa (Património

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Parque Arqueológico de Foz Côa (Património Mundial da Humanidade) (*****) (Conclusão)

Peço aos leitores que não leiam este próximo post, porque vão estar sujeitos as elucubrações de alguém que não leu mais do que meia-dúzia de artigos sobre o tema e que apesar de ter apenas visitado os núcleos do Vale do Côa, Mazouco e Siega Verde, tem a pretensão de dizer algo com nexo, mas nada original, sobre o ambiente e as motivações dos nossos antepassados paleolíticos. Espero que o grupo dos viajantes amadores não fique mal, pelas minhas divagações no ciber-espaço. Pare aqui, não leia mais, porque é agora que vou começar!

Era uma vez um grupo de Homo sapiens sapiens recolectores que encontraram o seu paraíso; o ambiente do planeta era gélido, seco e os rios pouca água levavam, exceptuando no degelo primaveril. A serra da Estrela, mas também a Serra da Peneda, estavam cobertas por glaciares, que escavavam vales em U nos seus flancos; mas o poente da Península Ibérica, principalmente nos vales mais profundos, ao abrigo do frio gélido, eram locais privilegiados para se estar, caçar e pescar. Também aqui os animais encontravam melhores condições ambientais (inclusive água líquida e pastos), refugiando-se da tundra. Era o éden e ainda o é (os portugueses contemporâneos são uns ingratos). E neste paraíso inicial os primeiros homens “modernos”, esboçaram o início da arte; mas o que temos hoje acessível são ínfimos fragmentos de uma mundividência outrora riquíssima e iluminada pela violência bárbara da natureza.

Enquanto a arte paleolítica é de carácter naturalista, privilegiando a figuração de grandes animais herbívoros, o mesmo não acontece com as “artes” que lhe sucedem, por exemplo a neolítica (que tanto gosto), que é maioritariamente simbólica e abstracta. È certo que a arte fundadora nos é interdita no seu significado, mas mesmo assim aqui ficam algumas especulações avulsas sobre o tema:

- Representariam animais para propiciar a sua fecundidade e assim aumentar as rezes de caça?

Desta maneira, estar-se-ia a pedir ao sagrado que propiciasse abundante caça, tal como ainda hoje pedimos nas nossas orações e evocações ao divino? -em suma uma manifestação religiosa.

- Estaremos em presença de um desejo do Homem em provar que existia uma hierarquização animal e que considerava os animais gravados (auroques, cervídeos, equídeos, e caprídeos superiores aos outros que não figurava (roedores, felinos, pássaros, peixes e canídeos)? Talvez os primeiros indícios de uma distinção da condição humana face (superior) -e por oposição -à condição animal (inferior)!

- Seriam marcadores de territórios e de caça de diferentes tribos e clãs?

- Existiria aqui coabitação entre o Homem “moderno” em contacto com o seu rude “primo” neandertal, e a arte poderia ser uma maneira do primeiro se distinguir do outro?

- Estaremos em presença de animais que poderão representar “auxiliares de viagem” (“spirit-helpers”) e que apenas poderiam ser desenhados por visionários xamãs? Estaríamos já então em demanda da imortalidade e do sagrado, com a constatação da existência de mundos paralelos para onde migraríamos após a nossa morte?

O carácter sagrado do vale, em longuíssimo tempo, é perpetuado pela existência de gravuras paleolíticas, Neolíticas, Calcolíticas, Idade do Ferro até à época histórica com a figuração de uma interessante custódia seiscentista ou ainda de outras figurações religiosas do século XX.

Após a descoberta do Cavalo de Mazouco, do vale do Côa (a que se segue Siega Verde) é hoje lícito considerar a hipótese de terem existido diversos locais de concentração de gravuras ao ar livre que completassem as belíssimas pinturas do grupo franco-cantárbico (Lascaux, Altamira (ver mais História da Arte), e da nossa gruta do Escoural (**) em Montemor-o-Novo.

A sua preservação ficou no entanto comprometida pelas brutais amplitudes térmicas que sucederam ao período glaciar, quando a Europa, que se encontrava literalmente coberta por uma camada de gelo e ao aquecimento gradual do ambiente: um fenómeno de crioclastia que terá degradado os painéis litológicos.

A sua preservação no território português e espanhol deve-se, precisamente, ao facto de aqui ter sido muito menor o impacto desta brusca alteração climática. Dai que também a fauna tipicamente euro-siberiana (mamutes e bisontes) não se encontre aqui representada.

Recentemente têm sido efectuadas prospecções nos vales mais abrigados e de menor demografia histórica que poderão conter algumas surpresas (por exemplo: Zêzere, Ceira e Tejo – e a “minha” água entendida como elemento mágico, criador de vida.

Saberemos, de facto algum dia da razão do impulso artístico/simbólico dos primeiros homens modernos?

Venha ao Côa e decida por si, racionalmente ou de acordo com o sonho e a emoção, e parta com a impressão que assistiu ao mais antigo “Património Mundial da Humanidade”, no que concerne à sua actividade artística.

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