Pentecostes, Vasco Fernandes (Grão Vasco). Óleo

                                   Pentecostes, Vasco Fernandes (Grão Vasco). Óleo sobre Madeira, 1535. Retirado de www.uc.pt/artes
Coimbra-Mosteiro de Santa Cruz VII – Galeria de Arte Sacra do Mosteiro de Santa Cruz (*)
O antigo refeitório do mosteiro, cujas obras tiveram início em 1528 sob a direcção de Diogo Castilho, é um edifício de planta rectangular e coberto por uma abóbada de nervuras. Foi para aqui que Odart esculpiu o conjunto escultórico do Apostolado da Última Ceia, que hoje se encontra no Museu Machado de Castro. Durante muitos anos, este espaço nobre, esteve ocupado pela biblioteca municipal, até ser transferida para novas instalações.
Depois de requalificado o espaço, este foi durante alguns anos uma sala de exposições da cidade; até que em 2003 e inserida na Capital Nacional da Cultura, foi ocupado por um núcleo museológico, com os bens do Mosteiro de Santa Cruz.
Do acervo da mais importante casa monástica medieval portuguesa muito se perdeu, no entanto o museu é digno de visita. As principais atracções são indiscutivelmente as importantes pinturas quinhentistas portuguesas (*).
São magníficos os quadros do Calvário, Ecce Homo e Bustos de Apóstolos de Cristóvão Figueiredo, executados para o grande retábulo da Igreja de Santa Cruz entre 1529-30; os restos dos quadros do retábulo encontram-se no Museu Nacional Machado de Castro.
Notável é também o Pentecostes de Grão Vasco entre 1530 e 1535 que é uma obra fundamental à compreensão do universo pictórico de Vasco Fernandes, e importante testemunho da sua adesão aos valores do Renascimento italiano, é um dos melhores exemplares da pintura quinhentista portuguesa.
“A arquitectura de inspiração renascentista...é magnificamente estruturado pela luz incidente da abóbada central....é, pois, na expressividade das figuras - na serenidade contida do grupo central ou no arrebatamento dos dois apóstolos aproximados do primeiro plano- que Vasco Fernandes concentra todo o esforço emotivo e narrativo do tema”1.Magníficas são duas personagens que à esquerda se debruçam sobre livros, completamente alheados da emotividade da cena e do arrebatamento expressivo das restantes personagens; magistralmente representam dois humanistas renascentistas; é a valorização da racionalidade, do livro, o elogio do saber ou seja do renascimento do pensamento humano.
Desta notável galeria de arte sacra, destaca-se ainda dois tapetes persas do século XVI, um presépio em barro policromado do século XVIII, um braço relicário de santo Agostinho em prata dourada, vidro e pedraria do século XVI ou um sino de 1294 – talvez o mais antigo de Portugal -, e algumas estátuas elaboradas para a fachada da igreja de Santa Cruz por Nicolau Chanterene.
1-História da Arte Portuguesa Vol.II- Direcção de Paulo Pereira, pag.288